terça-feira, 14 de dezembro de 2010

5. O PEQUENO PRÍNCIPE

"Todas as pessoas já foram criança. Mas algumas se esquecem disso"
Perplexo com as contradições das pessoas grandes, o pequeno príncipe segue sua viagem de compreensão dos mundos ao seu redor como um símbolo dessa nossa eterna busca por significado e inevitável confronto com as idéias e comportamentos alheios que à princípio nos surpreendem, ou mesmo irritam, mas que por fim contribuem para o desenvolvimento de nossa própria percepção das coisas. Extraordinário e misterioso, ele morava num planeta muito pequeno, como é o nosso mundo particular e o nosso campo de visão até percebermos que há um grande universo de diferentes mundos ao nosso redor. Ali ele se viu, um dia, arrebatado por um sentimento novo que lhe fez questionar a mediocridade de sua rotina.
Quando chega ao Planeta Terra, de primeira reconhece o elefante dentro da jibóia e continua pedindo o desenho do carneiro. Contenta-se apenas quando lhe foi desenhado uma caixa, que continha três furos e entusiasma-se “Era assim mesmo que eu queria”.

Era assim mesmo que eu queria

O Pequeno Príncipe não tinha explicitamente a imagem do carneiro, mas usou a imaginação para vê-lo e este, por ser visto em sua criatividade é exatamente da forma como desejou. Nada corresponde ao poder de nossa imaginação, todos nascem com ela, embora muitos não a levem por toda vida por acreditar que é um fardo muito pesado para carregar em uma sociedade que exige tanta realidade.
A imaginação é maior que qualquer conhecimento, porque não tem limites e possibilita novas descobertas. Crianças são lembradas pela capacidade de imaginar que possuem, devem todas manter-se assim por toda a vida.
“Desenha-me um carneiro”
Por vezes carneiros são procurados para acabar com as procupações do dia-a-dia, mas é preciso compreender que ninguém melhor que você mesmo para separar as sementes, para que os carneiros não comam as sementes das flores junto com os baobás. Se você quer as coisas boas que o mundo pode lhe dar, tem de trabalhar duro para separá-las das ruins. Não dá para pedir que o carneiro faça esse trabalho por você. O carneiro é inconsciente, não sabe escolher. É preciso usar a capacidade de discriminação para separar o bom do ruim. Só um homem consciente pode controlar seus instintos.
“- E se tu fores bonzinho, darei também uma corda para amarrá-lo durante o dia. E uma estaca.
- Amarrar? Que idéia esquisita! - disse o Pequeno Príncipe.
- Mas se tu não o amarras, ele vai-se embora e se perde...
(...)
- Quando a gente anda sempre para frente, não pode mesmo ir longe...”
O Príncipe sabia que andar somente para frente não dá grande resultado.
As pessoas esqueceram-se de olhar para os lados, para as que se importam e para as pessoas que lhes importam. Elas aderiram a ideologia de passar por cima de tudo para atingirem seus objetivos e desaprenderam, ou nunca chegaram a aprender que, às vezes, é necessário sair da reta para não deixar nada importante para trás. Focam-se por metas absurdas e de valor monetário, mas nunca de valor sentimental. Todos esqueceram de viver e de amar. Permitir olhar para os lados significa que a distração ocupa tempo e tempo, ah... tempo é dinheiro! O Pequeno sabia que algumas vezes é preciso parar, é preciso contornar e buscar coisas que ficaram para trás.
O que ele não sabia é que é preciso amarrar para não fugir, amarar para não sair, amarrar para não perder. Ele não compreende e acha esquisita a forma de manter um amigo, porque sabe que o que realmente lhe pertence não precisa amarrar. Mas as pessoas grandes tem medo, elas amarram as coisas, as pessoas e todo resto que puderem ao seu redor para que não partam; porque não sabem manter amizades. Elas não sabem perder, e pior, elas não aprenderam a tratar da perda e por isso seguem sempre em linha reta, não voltam para trás.
“Tenho sérias razões para supor que o planeta de onde vinha o príncipe era o asteróide B 612. Esse asteróide só foi visto uma vez ao telescópio, em 1909, por um astrônomo turco. Ele fizera na época uma grande demonstração da sua descoberta num Congresso Internacional de Astronomia. Mas ninguém lhe dera crédito, por causa das roupas que usava. As pessoas grandes são assim.”

Em uma sociedade capitalista, estudo é sinônimo de sabedoria, mesmo que não se saiba aplicar nenhum conhecimento. Vestimenta apresenta o poder aquisitivo e conseqüentemente a importância e valorização daquilo que diz. Os adultos, especialmente os materialistas, julgam pelas aparências. Até que o astrônomo turco apareça em elegantes roupas ocidentais sua teoria não foi ao menos ouvida.

As crianças crescem com a idéia pré-concebida de que as pessoas ricas são mais inteligentes e, por isso, lhe proporcionarão mais oportunidades.
“As crianças devem ser muito indulgentes com as pessoas grandes.” porque elas perguntam muito e só acreditam quando lhes são apresentados fatos que comprovem qualquer tipo de coisa. Depois de algum tempo, passam a se conformar com os fatos e deixam de questionar. Por isso vivemos em uma sociedade muda.
“Julgava-me talvez semelhante a ele. Mas, infelizmente, não sei ver carneiro através de caixa. Sou um pouco como as pessoas grandes. Acho que envelheci.”
O aviador reconhece suas características de pessoa adulta e sabe que não conseguiria enxergar o carneiro através da caixa, mas julgava-se talvez semelhante ao Pequeno Príncipe porque sabe que não deixou morrer a criança que foi, mesmo que desencorajada, ela continuava lá e conseguia encontrar semelhanças em uma criança pura.
Em uma certa idade somos obrigados a amadurecer, assumir responsabilidades e a ocupar nosso tempo com compromissos sempre muito importantes. Amadurecer e aderir responsabilidade exige grandes mudanças de comportamento e na vida das pessoas, podendo não significar que em seu íntimo não possa, ainda que velha, existir uma criança que vive adaptada ao novo formato de vida.
Crianças são somente crianças, adultos não precisam ser somente adultos se souberem cultivar a inocência e a pureza infantil dentro de si.

Os baobás, antes de crescer, são pequenos.
Baobás são grandes e fortes árvores, quase impossíveis de derrubar, como nossos pensamentos e valores adotados ao longo da vida. Valores que são criados e determinados por ninguém sem objetivo nenhum e que se forem permitidos crescer dentro de nós tomam conta do nosso espaço e fazem com que gastemos nossa vida em função deles.
A natureza nos faz crescer, mas não nos faz esquecer das características marcantes de uma criança. Existem pessoas que são consideradas socio e economicamente grandes, mas são bastante pequenas em seu íntimo por não saberem cultivar a essência de uma criança no seu interior sem nunca ter que fazê-la envelhecer.
“Mas quando se trata de uma planta ruim, é preciso arrancar logo, mal a tenhamos conhecido.”
Mas quando esta planta, este nosso pensamento, não permite que nós evoluamos é preciso que ela seja cortada pela raíz e para isso é necessário deixar a linha reta, fazer a volta e arrancar a semente, para que não cresça mais uma vez, para que este mal não seja tão grande que nos cegue a visão.
O Pequeno acreditar naquilo que não se vê, no que ninguém crê e até pode parecer trabalho de formiguinha, que não Príncipe perfurava as raízes dos seus baobás todos os dias. Todos os dias fazia o contorno da linha reta e cavava as sementes, assim como todos os dias devemos acaba nunca, mas rende muitos resultados.

E se o planeta é pequeno e os baobás numerosos, o planeta acaba rachando.
Se nossa mente é pequena e as ordens são muitas, acabamos nos perdendo dentro de nós mesmos e deixando, dia após dia, uma característica pessoal para trás no lugar de um valor de gente grande. Um valor, possivelmente, sem sentido.
"Meninos! Cuidado com os baobás!"
“É tão misterioso, o país das lágrimas!”
Alguns adultos perderam a capacidade de sorrir, mas pior que estes só os que perderam a capacidade de chorar. O choro alivia a dor que luta pra sair, que esperneia e exige uma saída. O choro encoraja! Lágrimas movem montanhas, limpam a alma! Não é á toa que nascemos chorando. Choro não é, nem nunca foi sinônimo de fraqueza.
"Não soube compreender coisa alguma! Devia tê-la julgado pelos atos, não pelas palavras. Ela me perfumava, me iluminava... Não devia jamais ter fugido. Devia ter-lhe adivinhado a ternura sob os seus pobres ardis. São tão contraditórias as flores! Mas eu era jovem demais para saber amar."
Por vezes deixamos de conhecer melhor as pessoas, não permitimos que façam parte de nossas vidas, nos auxiliando na caminhada por julgar as pessoas por aquilo que dizem e deixamos passar pequenos atos diários. Deixamos de ver quão bem as pessoas fazem para nossas vidas, quanto as pessoas podem nos enriquecer e as deixamos ir, ou fugimos delas por acreditar que uma palavra ou outra são capazes de fazer com que seus atos sumam. Ou por acreditar que o melhor da vida está aos trinta anos, e quando os trinta chegam, achamos que tudo vai melhorar aos quarenta e adiamos dia após dia a nossa felicidade.
“É preciso que eu suporte duas ou três larvas se quiser conhecer as borboletas.”
Algumas das melhores conquistas levam tempo para acontecer. Com os avanços tecnológicos atuais, a sociedade tem acesso à informações e a respostas de todas suas perguntas em questão de segundos. Por esse motivo, perderam a virtude de esperar. Não adianta acelerar o processo em que as larvas tornam-se borboletas, isso leva tempo, assim como alguns outros processos em nossas vidas.

Não soube compreender coisa alguma! Devia tê-la julgado pelos atos, não pelas
palavras. Ela me perfumava, me iluminava ... Não devia jamais ter fugido. Deveria ter-lhe adivinhado a ternura sob os seus pobres ardis. São tão contraditórias as flores ! Mas eu era jovem demais para saber amar.

Apesar de todos os cuidados do pequeno príncipe, ela nunca estava satisfeita. Era linda! Mas também orgulhosa, caprichosa e contraditória. Extremamente feminina e sedutora a rosa é um misto de caprichos e sabedoria.

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