terça-feira, 14 de dezembro de 2010

6. OS TIPOS DE ADULTOS

O Pequeno Príncipe passa a relatar ao aviador o trajeto que o fez chegar até a Terra. Saiu em busca de ocupação e de se instruir.
Primeiro passa por um planeta, cujo dono é um Rei sem súditos. Este rei é um exemplo clássico dos adultos atuais: possuem necessidade de dar ordens.

É preciso exigir de cada um o que cada um pode dar.
Ele pensa que tudo e todos são seus súditos e tem necessidade de controlá-los. Além disso, compreende que julgar a si mesmo é uma tarefa muito difícil, pois exige que se conheça muito bem.
No segundo planeta ele encontra com um Vaidoso. O vaidoso precisa da admiração de todos para comprovar o seu valor. Ele nos faz lembrar que precisamos reconhecer nossos próprios talentos e capacidades, e não depender de elogios dos outros para nos auto-afirmar. Os vaidosos são facilmente manobrados. Basta saber manipular sua vaidade e ele fará o que você quiser.

Mas o vaidoso não ouviu. Os vaidosos só ouvem elogios.
O planeta seguinte era habitado por um bêbado. Esta visita foi muito curta, mas mergulhou o principezinho numa profunda melancolia. O bêbado tenta escapar da realidade por meio do álcool, mas não consegue escapar da vergonha de ser como é. O seu desabafo é um alerta contra o vício nas mais diferentes formas com que se manifesta. Todos temos nossos vícios. Um vício é um hábito freqüente que normalmente desenvolvemos para esquecer ou fugir daquilo que não nos agrada em nossa realidade. Alguns deles são menos saudáveis que outros. E há aqueles que são doentios. E essa doença se caracteriza na dependência do hábito não pelos resultados alcançados, mas pela própria distorção de seu propósito.
As pessoas têm diferentes justificativas para evitar o crescimento, para atrasar a tomada de consciência. Existem prisões: pisão da vaidade, prisão da bebida, prisão provocada pela perda do equilíbrio mental. Cada um tem a sua prisão especial.

– Por que é que bebes?
– Para esquecer.
– Esquecer o quê?
– Esquecer que eu tenho vergonha.
– Vergonha de quê?
– Vergonha de beber!
O quarto planeta era o do homem de negócios. Estava tão ocupado que não levantou sequer a cabeça à chegada do príncipe. O homem de negócios está tão ocupado contando o que acumulou que não pode desfrutar da vida. O pequeno príncipe nos faz ver que isso também é um vício. É preciso valorizar quem você é, e não o que você tem. O senso de prioridade, que varia de um indivíduo pra outro, é o que pode livrar alguém do vício ou afundá-lo ainda mais nele.

– E de que te serve possuir as estrelas?
– Serve-me para ser rico.
– E para que te serve ser rico?
– Para comprar outras estrelas, se alguém achar.
'Esse aí', disse o principezinho para si mesmo, 'raciocina um pouco como o bêbado.

O quinto planeta era muito curioso. Era o menor de todos. Mal dava para um lampião e o acendedor de lampiões ... Um bom homem cumpre o seu dever. Mas como ele mesmo diz, "É possível ser fiel e preguiçoso..." O universo está em constante evolução. O homem, as crenças e as relações humanas também. Mas o acendedor de lampiões não tem o bom senso de questionar as ordens e trabalha sem parar, mesmo sabendo que não vai chegar a lugar algum. Às vezes, nos prendemos de tal modo às nossas ocupações que achamos que o mundo não funcionará sem nossa contribuição.
Nos sentimos imprescindíveis como uma engrenagem no funcionamento desse mundo, e vamos acumulando mais responsabilidades, de modo que o tempo vai-se esvaindo. Quando vemos, estamos num ritmo tão acelerado que já não podemos mais parar. Precisamos aprender a respeitar nosso próprio ritmo e não abraçar mais responsabilidades do que aquelas que nossas forças permitem.

Eu executo uma tarefa terrível. Antigamente era razoável. Apagava de manhã e
acendia à noite. Tinha o resto do dia para descansar e o resto da noite para dormir...
Ele é também um símbolo da vida moderna, cada vez girando mais rapidamente. Se o homem não souber parar e pensar, vai acender e apagar lampiões cada vez mais depressa, até morrer de exaustão.
"Aí é que está o drama! O planeta de ano em ano gira mais depressa, e o regulamento não muda!"
O sexto planeta era dez vezes maior - Era habitado por um velho que escrevia livros enormes. O geógrafo sabe toda a teoria, mas não aplica seus conhecimentos. Nunca sai da sua mesa para explorar as descobertas. Como um bom burocrata, declara que isso é trabalho de outra pessoa. É ele quem recomenda ao pequeno príncipe que visite o planeta Terra. E deixa o principezinho abalado quando lhe conta que sua flor é efêmera. É justamente por nunca ter aplicado seus conhecimentos que o geógrafo não percebe o efeito que aquele conceito gera no coração do princepezinho. O excesso de conhecimento associado à falta de empatia e vivência pode ser um comportamento igualmente danoso.

É muito raro um oceano secar, é raro uma montanha se mover....
O que vemos em todos esses planetas, são pessoas adultas muito ocupadas com tarefas que não têm importância alguma. Existem alguns homens que deixam de ter corpo de criança, conquistam uma profissão, constroem famílias e param na vida. O crescimento foi somente físico, não psicológico. Estes podem se espelhar nos personagens que o Pequeno Príncipe encontrou em sua viagem.

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