terça-feira, 14 de dezembro de 2010

8. DESERTO

Todos vivemos em um deserto. Não necessáriamente um deserto material, mas sim simbólico. Um deserto simbólico em que na realidade você pensa que está no deserto, mas é o deserto que está em você.
Sua vida ficou vazia, sem propósito. Viver para que? Para ficar mais rico, para ter mais estrelas, para acender e apagar mais lampiões?
Alguns refugiam-se em seus empregos e se mantêm ocupados para não pensar na vida. O Pequeno Príncipe em sua viagem encontrou muitos desses exemplos. Os que conseguirem não pensar na vida, substituindo suas inquietações por trabalho, ou outra preocupação qualquer, talvez só vivam essa crise na morte. É muito comum pessoas que se dedicam a alguma causa como o socialismo, capitalismo, comunismo ou qualquer outro ismo acharem que estão tentando salvar a humanidade ao se entupir de ideias materiais, evitando pensar na vida.
As pessoas ficam neuróticas quando não encontram a resposta desejada para as questões da vida. Elas buscam posição, casamento, reputação, sucesso externo ou dinheiro e continuam infelizes ou neuróticas, mesmo depois de terem alcançado aquilo que buscavam. Suas vidas não têm conteúdo ou significado suficientes. Se têm condições para ampliar e desenvolver personalidades mais abrangentes, sua neurose costuma desaparecer.
Alguns tentam e conseguem apenas despertar seus demônios, caindo em infernos particulares. Uns entram em depressão, outros se entregam à promiscuidade sexual, à busca desenfreada pelo poder, a atos destrutivos como bebida, drogas, ou até mesmo acidentes causados por riscos excessivos. Vão querer ser donos de 500 milhões de estrelas, ser reis de nada ou acende e apagar lampiões e outras tarefas materiais.
Existe um momento na vida que pode ser visto como um grande pesadelo do qual queremos fugir, acordar, voltar atrás. Porque ir em frente implica reconhecer e aceitar uma grande verdade da qual provavelmente já desconfiávamos. Estamos sozinhos nesse mundo. Mesmo tendo uma mulher/esposo/pai/mãe que o ame, não dá para esquecer que, em certos momentos críticos, quando paramos para pensar na vida e na morte, estamos sozinhos. Especialmente na morte, que é a experiência suprema, só sua.
O rei, o empresário, o bêbado, o acendedor de lâmpiões e o geógrafo estavam todos sozinhos em seus asteróides. Estavam no deserto, tentando esquecer-se de suas crises, buscando não reconhecer o deserto. O problema é que estavam apenas atrasando o processo de reconhecimento.
É se suma importância que, além das diversas atividades que o homem tem, ele saiba encontra-se. É normal qe o homem, antes da metade de sua vida, dê prioridade à sua carreira, a seus negócios. Mas isso não pode ser um caminho para toda a vida.
É nesse cenário que, após tanto aprender e ensinar o Pequeno Príncipe vai embora.

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